Bom, estava eu na segunda de
carnaval em minha cidade natal (Nova Araçá/RS) participando de um bloco chamado
“Ai se eu te pego”. Meu primeiro ano nesse bloco, no qual, no auge de meus 27
anos, me senti o “Tio da Sukita”, já que os demais integrantes, em sua maioria,
eram bem mais novos do que eu. Pareceu-me uma boa oportunidade para observar a
maneira como a “galera mais jovem” da minha cidade e região (havia pessoas de
municípios próprios também) celebra essa grande manifestação cultural chamada carnaval.
A primeira impressão foi negativa,
pois na principal noite de carnaval, ainda na festa de concentração do bloco,
ao invés de tocarem as famosas marchinhas carnavalescas, o que se ouvia era
música eletrônica. Pensei eu, será que vai tocar pelo menos uma música que
relembre a cultura local para salvar a noite? Mas até aquele momento não houve
nada.
Assim mesmo, comecei a conversar
com outras pessoas que por lá estavam e aconteceu algo muito interessante. Na
conversa com um guri e uma guria, bem mais novos, falei de minha opinião
contrária a música eletrônica naquele ambiente e momento; estes foram taxativos
e me chamaram de velho e de “careta”. Não continuei defendendo minha opinião e
no transcorrer da conversa o rapaz convidou a moça para seu churrasco de aniversário
que ocorreria no início de março, ela falou:
- Irei somente se houver matambre
de porco!
Esta resposta foi de grande
alegria para mim, pois, mesmo sem saber, a menina estava mostrando que os
costumes e tradições italianas ainda estão presentes na sociedade araçaense.
Nada mais tradicional nessas comunidades que o elevado consumo de carne de
porco com seus inúmeros subprodutos (salame, socol, queijo de porco,..., etc.).
Além disso, em nossas viagens
para outros municípios ouvia a galera em coro cantando:
- Mérica, Mérica, Mérica...
Isso tudo me alegrou. Sei que os
costumes estão se perdendo, mas existe muito da cultura taliana impregnada
naquela sociedade e acredito ser possível, por meio de nosso esforço, fazê-la
viver com muito mais vigor. Eu mesmo, que hoje busco mantê-la viva, quando
residia em Nova Araçá, na mesma idade daqueles jovens, não tinha a noção exata
do que ela significava. Foi a universidade e o contato com a vida fora da
colônia que me despertou para a sua importância.
É por isso que digo: Eu acredito
no matambre de porco!
Espero que o esforço de pessoas
que se interessam pelo tema - de autoridades locais e da comunidade em geral, apoiados
na força dos costumes ainda existentes - consiga manter viva a cultura dei nostri bisnoni, que tanto fizeram e
fazem por nossa região e estado.
Vanclei! Acho muito curiosa e peculiar a cultura das colônias italianas. Quando leio aqui o que tu escreve a respeito, noto um bairrismo desmedido! Ao mesmo tempo, acho bonita essa vontade de preservar a cultura que como tu disse aí em cima surge principalmente quando se sai da colônia, se descobre um mundo novo muito maior e se sente falta daquilo que antes talvez fosse tão "lugar comum" que nem despertasse tanta atenção. Como gaúcha muito orgulhosa e bairrista tenho o mesmo sentimento em relação ao Rio Grande do Sul que tu tem em relação à tua colônia o que me faz cada vez entender melhor teu sentimento.
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa do blog!
Adriana, primeiro obrigado pelo comentário ele me permite explicar uma coisa. Qual seja: Não há bairrismo na tentativa de valorização na cultura dos descendentes de imigrantes, simplesmente por que ela não tem fronteiras. Ela é espalhada por diversas regiões do Brasil (RS, SC, PR,MT,ES) e mesmo outros países. Obviamente eu falo mais da região serrana do RS porque é minha região, mas o objetivo é valorizar os costumes, as tradições, os valores que perduraram neste cultura ao longo do tempo independente do local onde esteja. Não há nada contra outros costumes, culturas, ou povos, é apenas a tentativa de valorizar o que somos, de onde viemos, enfim, nossa história.
ExcluirFico feliz em saber Vanclei. Tenho curiosidade em saber como ocorre essa preservação de cultura e mesmo peculiaridades e incidentes corriqueiros como o do matambre de porco em outras colônias Brasil afora. Assim acho que saberíamos se é muito diferente do que acontece no RS.
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