domingo, 4 de maio de 2014

Apelidos Araçaenses: Eles dizem muito sobre nós!

No último feriado da páscoa estive em Nova Araçá. Visitar a família, os amigos, os parentes, onde se pode conversar (ciacolar) a vontade sobre tudo; isto é ótimo, me renova e dá força para continuar. De fato, é sempre muito bom rever os meus, e este, acredito, é um sentimento de todos que amam seu lugar e sua gente de origem.
Porém, nem só de alegria vivem essas visitas, também “me stufa de esser casa a magnar e bever tanto”. Mas isso faz parte né!? E, em geral, sempre que volto para minha rotina reflito sobre a vida na colônia e dá vontade de escrever no blog. Assim foi dessa última vez, então resolvi escrever. O assunto:
- Os apelidos!
Essa forma de tratamento, às vezes carinhosa, às vezes engraçada, às vezes não muito bem aceita por aqueles a quem a alcunha é imposta diz muito sobre as pessoas e a comunidade em questão. No nosso caso, é inequívoco que muitos apelidos estão ligados à cultura italiana (La nostra cultura Taliana, o anche la nostra maniera de essere) e dizem muito sobre a forma particular como “tocamos a vida”. Há apelidos antigos, desde o tempo dos primeiros imigrantes e que sobrevivem ao tempo. Mesmo alguns sobrenomes podem ter surgidos de apelidos antiquíssimos. Foco-me aqui nos mais comuns, que conheço desde meus tempos de guri ali “no Araçá”.
Bom, então vamos começar com os tradicionais:
Temos, por exemplo, o Bepi Rizzotto (se lê Bépi) que dirige caminhão. Ninguém o chama de José, mas de Bepi. O pai do meu amigo Rudimar Bertoldo, ninguém o conhece por Antônio, mas por Toni (se lê Tóni) Bertoldo.
Outro caso desses apelidos tradicionais é o pai do Camilo Comunello, ele é conhecido por Gigio Comunello (se lê dgidgio) e não Luiz. Há, em Nova Araçá, diversos outros Gigios (Zamarchi, Casagrande, etc). Outra forma de chamar Luiz é por Luigi, veja-se o caso do Luigi Scapini.
Tem ainda o Giba Scapini, filho do Luigi, que também traz a carga cultural Taliana da família em seu apelido, se lê “Dgiba”, forma padrão do som da letra g em italiano (e no nostro Talian).
Há apelidos que refletem características físicas:
Como por exemplo, o pai do meu amigo Ricardo Baccarin, o falecido Risso, cujo apelido, muito provavelmente, se deva aos seus cabelos encaracolados, atributo que deixou por herança a seus descendentes, Ricardo e Daniel. Digo isso, pois, Risso em talian significa: crespo.
Ainda em relação aos atributos físicos, usa-se comumente Pici (que vem de picinin ou picenin, que significa pequeno) tanto para pessoas muito pequenas como para pessoas altas. Vide: Pici Franciosi e Pici Gregianin, dois amigos cujos os apelidos, provavelmente, se devem ao fato de o primeiro ser de estatura baixa e o segundo de estatura alta.
Outra forma de se apelidar as pessoas e que traz nossa veia Taliana é a forma em que abreviamos e pronunciamos os nomes próprios (nos moldes de Giba) temos:
O Cindo (que se lè Tchindo) ou Alcindo Mezzomo, pai do meu amigo Elvis. O Cichi (Tchiqui) primo do Cindo. Gioanin ou mesmo Jon são formas de se chamar João, veja o caso do João Sangalli e do João Gregianin (se lê Joanin e Jon, respectivamente).
O caso do “Pipa” é diferente. Seu apelido decorre do fato de ser um fumante habitual (pipa = cachimbo e pipeta = fumante, fumador de cachimbo). Este caso é curioso, pois o falecido vecio pipeta passou hereditariamente o apelido para seu filho, o Rubens Turmina - chamado Pipa ou pipeta - que, pelo que me consta nunca fumou. Assim, tem-se um apelido decorrente de um hábito que se passa para uma pessoa que não possui esse hábito!
Enfim, são apenas alguns exemplos e muitos outros poderiam ser elencados. Eu fiz menção destes apenas para ressaltar a influência e a herança cultural, ainda fortemente presente em nosso dia-a-dia, dos nossos antepassados – i nostri veci taliani – que fundaram nossas cidades e região. Por fim, ressalto que fiz referência a nomes e apelidos de pessoas muito queridas por todos nós e que já faleceram, meu objetivo com isso foi reforçar o legado cultural que nos cerca e relembrar a todos que uma ótima maneira de se homenagear nossos entes queridos é cultivando e preservando a nossa maneira de ser – maneira de essere taliani – que eles nos deixaram como NOSSA MAIOR HERANÇA!

Peço a todos que gostarem e/ou que souberem algum apelido de origem italiana em suas respectivas cidades que escrevam aqui. Essa é apenas uma singela forma buscarmos manter viva nossa cultura, compreendendo quem somos e rendendo homenagens àqueles que tanto trabalharam para nos propiciar uma vida melhor: os Nossos Antepassados!

6 comentários:

  1. Vanclei! Parabéns pela iniciativa. Com certeza uma excelente homenagem para manter viva a história dos nossos entes queridos.
    Lembrei de outros apelidos, ligados a características físicas: Dente (Ivanir Dall Agnol), o Franja (Igor Dall Agnol), Péie (William Richetti)...acho que os homens eram mais criativos nos apelidos. Abraço, Kelen

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  2. Oi Kelen. Não sei se os homens são mais criativos, acho que a vida na sociedade entre estes possibilitou um maior número de apelidos. E a questão do gênero conta, os homens, em geral, se sacaneiam mais com apelidos do que as mulheres. Mas o que importa mesmo é que percebamos o quanto a cultura dos coloni molda o nosso cotidiano, assim poderemos valorizá-la. Um abraço e obrigado pelas palavras de incentivo.

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  3. Muito bom. Eu valorizo muito a nossa cultura e a História de Nova Araçá. Acho que devemos manter vivas nossas raízes, mas o mais importante é preservar essa nossa forma de lidar com tudo isso, com bom humor e manter sempre essas preciosas amizades que ultrapassam gerações. bjos

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  4. Concordo Maristela Zanchettin, e a valorização da cultura passa por falar o nostro talian. Pois ele contém a expressão da cultura e permite que esta se mantenha entre as gerações. E em relação a cultivar as amizades e o bom humor, esses são atributos invejáveis em toda sociedade. Abraço e tudo de bom

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  5. Parabéns! Também gosto e procuro saber da belíssima história de nossos antepassados recentes. Porém, os registros são poucos, portanto devem ser reconhecidos. Fico feliz por mencionar meu grande avô João Sangalli, que foi um grande homem e um cidadão importante para o município araçaense. Novamente o parabenizo pelo excelente trabalho. Abraço amigo.

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    1. Grande Bruno, agradeço as palavras e depende de nós o resgate da história. Isso pode ser feito de inúmeras maneiras, desde pesquisas exaustivas à simples conversa com os mais velhos. Abraço Bruno, sucesso.

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