sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Uma boa luta


Por que nós, descendentes de italianos, devemos nos preocupar com os costumes, os valores e os ensinamentos transmitidos pelos nossos antepassados? A resposta é simples, grande parte do que somos, do que acreditamos, do que sabemos e do que fazemos se deve a essa cultura. Além disso, não se pode negligenciar tudo que foi construído, as cidades criadas e todas as benfeitorias introduzidas, sobretudo, na economia gaúcha e brasileira. Por isso é nosso dever mantê-la viva, principalmente por estarmos em um período chave para sua futura conservação.
Em sua chegada ao RS, os imigrantes encontraram uma terra habitada por um povo que possuía cultura própria e já bastante arraigada – o gaúcho. Embora o apego às tradições e costumes tenha sido uma marca característica dos primeiros colonos italianos, o convívio com o povo local e a adaptação à realidade do novo continente exerceram inegável influência sobre a cultura trazida da Itália. Desse modo, costumes já existentes, como por exemplo, os hábitos de tomar chimarrão e comer churrasco, foram incorporados, principalmente, pelos filhos e netos dos imigrantes. Hoje, esses costumes fazem parte da cultura dos ítalo-gaúchos. Assim, foi natural a mescla entre os povos, devendo isto ser visto de maneira positiva. Entretanto, a cultura dos imigrantes italianos por pertencer a uma minoria (o que se estende, em diferentes graus, aos outros povos) - se não em número, mas, em força política e social - acabou perdendo espaço. Sua língua foi proibida de ser falada, no período da segunda guerra mundial. Em seguida, entre outras importantes transformações sociais, o êxodo rural representou um novo golpe para a sua preservação, pois a expulsão dos descendentes de imigrantes das áreas rurais, mais isoladas e homogêneas em termos de cultura, para as grandes cidades dificultou que a língua e costumes fossem passados a diante.
 Esse processo de desgaste se intensificou, sobretudo, a partir anos 1970 e 1980 com a massificação da televisão e homogeneização cultural advinda do processo de globalização. Diante desse quadro, é imprescindível que nós, descendentes dos imigrantes, lutemos para preservar a nossa cultura. Especialmente em localidades onde ela ainda existe com força, como é caso de algumas regiões ao norte do Rio Grande do Sul, na serra gaúcha e na região da quarta colônia no centro do estado (ou mesmo em outros estados como Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo). Nossa língua - o “Talian” - deve ser ensinada aos mais jovens, às crianças e (por que não?) nas escolas; a culinária, precisa ser aprendida pelas novas gerações. Costumes como o filó - reunião entre vizinhos e/ou parentes para cantar, jogar cartas, comer, beber vinho, conversar sobre a vida, família e trabalho, além de rezar - também poderia ser revivido. Ademais, a valorização do trabalho, da poupança e do consumo frugal marcas dessa cultura e que moldaram nossas cidades devem ser reafirmados, ocupando o papel que lhes cabe como responsáveis, em parte, pelo atual estágio de desenvolvimento de regiões como a serra gaúcha. Por último, mas não menos importante, cabe salientar que a preservação dessa cultura passa também pela manutenção dos valores cristãos que foram a fortaleza dos primeiros italianos que sua terra deixaram “per far L’america”. Assim, é com espírito cheio de fé que devemos lutar para manter viva “La nostra maniera di essere taliani”. 

Vanclei Zanin

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