Por que nós, descendentes de
italianos, devemos nos preocupar com os costumes, os valores e os ensinamentos transmitidos
pelos nossos antepassados? A resposta é simples, grande parte do que somos, do
que acreditamos, do que sabemos e do que fazemos se deve a essa cultura. Além disso,
não se pode negligenciar tudo que foi construído, as cidades criadas e todas as
benfeitorias introduzidas, sobretudo, na economia gaúcha e brasileira. Por isso
é nosso dever mantê-la viva, principalmente por estarmos em um período chave
para sua futura conservação.
Em sua chegada ao RS, os
imigrantes encontraram uma terra habitada por um povo que possuía cultura
própria e já bastante arraigada – o gaúcho. Embora o apego às tradições e
costumes tenha sido uma marca característica dos primeiros colonos italianos, o
convívio com o povo local e a adaptação à realidade do novo continente
exerceram inegável influência sobre a cultura trazida da Itália. Desse modo,
costumes já existentes, como por exemplo, os hábitos de tomar chimarrão e comer
churrasco, foram incorporados, principalmente, pelos filhos e netos dos
imigrantes. Hoje, esses costumes fazem parte da cultura dos ítalo-gaúchos.
Assim, foi natural a mescla entre os povos, devendo isto ser visto de maneira
positiva. Entretanto, a cultura dos imigrantes italianos por pertencer a uma minoria
(o que se estende, em diferentes graus, aos outros povos) - se não em número,
mas, em força política e social - acabou perdendo espaço. Sua língua foi
proibida de ser falada, no período da segunda guerra mundial. Em seguida, entre
outras importantes transformações sociais, o êxodo rural representou um novo golpe
para a sua preservação, pois a expulsão dos descendentes de imigrantes das
áreas rurais, mais isoladas e homogêneas em termos de cultura, para as grandes
cidades dificultou que a língua e costumes fossem passados a diante.
Esse processo de desgaste se intensificou,
sobretudo, a partir anos 1970 e 1980 com a massificação da televisão e
homogeneização cultural advinda do processo de globalização. Diante desse
quadro, é imprescindível que nós, descendentes dos imigrantes, lutemos para preservar
a nossa cultura. Especialmente em localidades onde ela ainda existe com força,
como é caso de algumas regiões ao norte do Rio Grande do Sul, na serra gaúcha e
na região da quarta colônia no centro do estado (ou mesmo em outros estados
como Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo). Nossa língua - o “Talian” - deve
ser ensinada aos mais jovens, às crianças e (por que não?) nas escolas; a
culinária, precisa ser aprendida pelas novas gerações. Costumes como o filó -
reunião entre vizinhos e/ou parentes para cantar, jogar cartas, comer, beber
vinho, conversar sobre a vida, família e trabalho, além de rezar - também poderia
ser revivido. Ademais, a valorização do trabalho, da poupança e do consumo
frugal marcas dessa cultura e que moldaram nossas cidades devem ser reafirmados,
ocupando o papel que lhes cabe como responsáveis, em parte, pelo atual estágio
de desenvolvimento de regiões como a serra gaúcha. Por último, mas não menos
importante, cabe salientar que a preservação dessa cultura passa também pela
manutenção dos valores cristãos que foram a fortaleza dos primeiros italianos
que sua terra deixaram “per far L’america”. Assim, é com espírito cheio de fé
que devemos lutar para manter viva “La nostra maniera di essere taliani”.
Vanclei Zanin