domingo, 8 de setembro de 2013

Le Campene Del Bassan!
Quero compartilhar uma música que uma amiga de Nova Bassano – RS disse ter apreendido com a nona dela. Trata-se de uma canção de ninar Taliana conhecida como Le Campane Del Bassan. Fiz algumas buscas na internet pelo termo filastrocca – canção de ninar em italiano – e encontrei uma versão em Vêneto (é fácil para a gente entender, uma diferença está em ler x com som de z). A diferença em relação à versão encontrada na internet é apenas quanto ao nome da cidade. Na versão veneta aparece o nome da cidade Mason (Província de Vicenza na região do Vêneto – Itália) e a versão bassanense tem-se a cidade, também vicentina, de Bassano Del Grappa. O que leva a crer que esta canção de ninar era cantada às crianças das diferentes comune venetas alterando apenas o nome da cidade em questão[1]. No link poderão encontrar a versão da filastrocca em Vêneto e em italiano gramatical.
Para apresentar no nostro Talian pedi ajuda ao Professor Darcy Loss Luzzatto, o qual escreveu um dicionário Talian-Portoguese. Obra seminal e essencial para todos que se interessam de verdade pela nostra cultura taliana. Apresento a versão em Talian e a tradução, ambas feitas pelo professor Darcy. É obvio que a tradução não consegue exprimir o mesmo conteúdo que a versão original, porém optei por colocá-la para auxiliar quem não conhece o Talian.
Por fim, gostaria de agradecer de maneira especial o Professor pela ajuda, assim como a Jane Comunello por ter compartilhado questa bela musicheta. Peço a todos que tiverem algo relacionado a nostra maneira de essere taliani para compartilhar seus materiais e me coloco como um instrumento para tal. Espero que gostem!

Le Campane de Bassan!
(Filastroca d’orìgine veneta)

Din don, campanon,
Le campane de Bassan
Le sonava di e note,
Le bateva zo le porte,
Ma le porte zera de fero.
Volta la carta, ghe ze un capelo,
Un capelo pien de piova;
Volta la carta, ghe ze na rosa,
Na rosa che sà de bon;
Volta la carta, ghe ze un limon,
Un limon massa fato;
Volta la carta, ghe ze un mato,
Un mato da ligare;
Volta la carta, ghe ze un mare,
Un mare e na marina;
Volta la carta, ghe ze na galina,
Na galina che fa co-co-dè;
Volta la carta, ghe ze un rè,
Un rè e un rearo;
Volta la carta, ghe ze un peraro,
Un peraro che fa dei peri;
Volta la carta, ghe ze du sbiri,
Du sbiri che tra de cao;
Volta la carta, ghe ze un pao,
Un pao col colo rosso;
Volta la carta, ghe ze un posso,
Un posso pien de àqua;
Volta la carta, ghe ze na gata,
Una gata con du gatei;
Volta la carta, ghe ze tre putei,
Tre putei i va a l’osteria;
Volta la carta e la ze finia!



Versão livre para o português:
Din-dom, toca o sinão!
Os sinos de Bassano
tocavam noite e dia,
tanto que forçavam/sacudiam as portas,
mas as portas eram de ferro!
Vira a página, há um chapéu,
um chapéu cheio de chuva;
Vira a página, há uma rosa,
uma rosa que exala perfume;
Vira a página, há um limão,
um limão demasiadamente maduro;
vira a página, há um louco,
um louco de atar (um doido da pedra);
Vira a página, há um mar,
um mar e uma marina;
Vira a página, há uma galinha,
uma galinha que faz co-co-dé; 
Vira a página, há um rei,
Um rei com seu reino;
Vira a página, há uma pereira,
uma pereira carregada de peras;
Vira a página, há dois esbirros,
dois esbirros que andam por aí;
Vira a página, há um peru.
um peru com o pescoço vermelho;
Vira a página, há um poço,
um poço cheio de água;
Vira a página, há uma gata,
uma gata com dois gatinhos;
Vira a página, há três meninos (nenês)
Três meninos que vão à hospedaria;
Vira a página e a história terminou!


Din don, campanòn
Filastrocca in veneto

Din don, campanòn
le campane del Masòn (Bassan)
le sonava dì e note
le bateva zò le porte
Ma le porte xera de fero
volta la carta ghe xe un capèlo
un capèlo pien de piova
volta la carta ghe xe ‘na rosa
na rosa che sà de bòn
volta la carta ghe xe un limon
un limon massa fato
volta la carta ghe xe un màto
un mato da ligàre
volta la carta ghe xe un mare
un mare una marina
volta la carta ghe xe ‘na galina
na galina che fà cocodé
volta la carta ghe xe un re
un rea, un rearo
volta la carta ghe xe un peràro
un peràro che fa i piri
volta la carta ghe xe dù sbiri
du sbiri che trà de cao
volta la carta ghe xe un pao
un pao col colo rosso
volta la carta ghe xe un pòsso
un posso pien de acqua
volta la carta ghe xe una gata
una gata con du gatèi
volta la carta ghe xe tri putei
tre putèi va al’osteria
volta la carta, la xe finìa.

Traduzione italiano:

Din don, campanone
le campane di Mason (Bassan)
suonavano notte e giorno
che buttavano giù le porte
ma le porte erano di ferro
volta la carta, c’è un cappello
un cappello pieno di pioggia
volta la carta c’è una rosa
una rosa che profuma
volta la carta c’è un limone
un limone troppo maturo
volta la carte c’è un matto
un matto da legare
volta la carta, c’è un mare
un mare, una marina
volta la carta c’è una gallina
una gallina che fà coccodè
volta la carte c’è un re
un re con un regno
volta la carta c’è un albero di pere
un albero di pere che fa le pere
volta la carta ci sono due sbirri
due sbirri che camminano di traverso
volta la carta c’è un tacchino
un tacchino con il collo rosso
volta la carta e c’è un pozzo
un pozzo pieno d’acqua
volta la carta e c’è una gatta
una gatta con due gattini
volta la carta ci sono tre bambini
tre bambini vanno all’osteria
volta la carta ed è finita!

terça-feira, 9 de julho de 2013

Porquinho de Santo Antônio, de onde vem?

Algum tempo atrás aconteceu algo inusitado comigo. Estava conversando com um amigo e usei a expressão “é um porquinho de Santo Antônio”. Como ele não a conhecia, tentei explicar, mas me dei conta que não conhecia sua origem, apesar de saber bem o significado dela. É difícil saber onde, quando ou como surge uma expressão, apenas as utilizamos.
Resolvi pesquisar a respeito.
A expressão (minha mãe a usa nesse sentido) se refere a pessoa que fica pela rua e/ou pela casa dos outros: “aquele é que nem o porquinho de Santo Antonio”. Portanto, refere-se ao comportamento de não parar em lugar nenhum, o famoso “bate-perna”. Minha mãe sempre me dizia: “Tu parece o porquinho de Santo Antônio”. Isso porque nas férias ou em feriados por Nova Araçá acabava passando o dia todo fora, visitando amigos e/ou em algum local da cidade.
Antes, porém, de iniciar uma pequena investigação sobre sua procedência da dita expressão, presumi que a mesma deveria ter alguma relação com imigração italiana, pois o pessoal de Nova Araçá a conhecia, enquanto outros amigos – que não eram da colônia italiana – não.
Pois bem, buscando pela internet, encontrei um site da Paróquia de Santo Antão, da cidade de Vitória de Santo Antão, no Pernambuco, que apresenta resumidamente a origem da expressão e a história do Santo, de cujo nome a expressão se origina. Permitam-me caros amigos, transcrever alguns trechos do texto que encontrei[1]:
Tudo o que nós conhecemos sobre a vida de Santo Antão, devemos a seu grande amigo e discípulo Santo Atanásio, que foi Bispo de Alexandria. Santo Atanásio teve oportunidade de visitar, algumas vezes, o santo eremita, no deserto; e dez anos depois que Antão morreu, Atanásio escreveu a vida de seu amigo: "Vita (Sancti) Antonii" - "Vida de Santo Antônio". Isto mesmo, Santo Antônio.
Explicação: Em todas as outras línguas, menos a portuguesa, tanto Santo Antônio de Pádua como Santo Antão são conhecidos por "Santo Antônio". Na língua portuguesa aconteceu um fato singular: na época em que apareceu Santo Antônio de Pádua (séc. 12/13), que nasceu em Lisboa-Portugal, e por isso é conhecido em Portugal por Santo Antônio de Lisboa, Santo Antão era também muito popular; para distinguir os dois, houve uma contração, ou seja, uma diminuição de sílabas na palavra "Antônio", e então Santo Antônio Abade ficou sendo carinhosamente conhecido por Santo Antão, enquanto o outro manteve o nome de Santo Antônio de Pádua ou Lisboa. Em todas as outras línguas, menos a portuguesa, o nosso Santo Antão ainda hoje é conhecido por Santo Antônio Abade.
Logicamente, Santo Antão era conhecido pelos imigrantes italianos como Santo Antonio Abade!
Depois de sua morte e com a divulgação de sua vida, feita por Santo Atanásio, foram numerosos os hospitais, Confrarias, Oratórios e Igrejas que receberam o seu nome. Como reflexo do culto popular de Santo Antão no Ocidente, e devido à sua fama de curar doenças contagiosas e epidemias, surgiu uma Congregação Religiosa que tinha o carisma especial de cuidar dos doentes, sobretudo aqueles que eram atingidos por epidemias e doenças contagiosas. Trata-se da "Ordem Hospitalar dos Antonianos", que tinha como insígnia o bastão ou cajado em forma de cruz (T), que era atribuído tradicionalmente a Santo Antão. Para assegurar a subsistência de seus hospitais, os religiosos "antonianos" criavam porcos, que perambulavam pelas ruas, e eram mantidos pela caridade pública, pelos restos de comida jogados pelas famílias. Muita gente, imitando o costume dos "antonianos", começou a criar porcos soltos nas ruas das cidades. Foi necessário então que a autoridade civil promulgasse uma lei proibindo criar porcos soltos na rua, com exceção dos porcos dos hospitais antonianos, os quais, para serem identificados, deviam levar uma campainha, um chocalho, preso ao pescoço. Em alguns lugares da Europa, ainda hoje existe o costume de se criar, durante o ano, às custas da coletividade, o "porco de Santo Antão", que é leiloado para cobrir os gastos da festa do santo.
Provavelmente temos aí, nos porcos criados pelos hospitais antonianos, a origem e a explicação do simpático porquinho que vemos sempre aos pés da imagem de Santo Antão.
Alguns ditos populares italianos ligados ao porquinho de Santo Antão, permaneceram durante muito tempo no linguajar do povo: De alguém ferido por acidente mortal ou coisa semelhante, se dizia: "Deve ter roubado um porco de Santo Antão"; ao passo que do malandro sem disposição para trabalhar, mendigando o pão de cada dia, se dizia: "Vai de porta em porta como o porco de Santo Antão".
O texto continua e apresenta muitas informações interessantes sobre a vida e a posterior devoção a Santo Antão (Santo Antônio para os imigrantes). Aos que se interessarem: o texto é muito bom, vale a pena lê-lo[2].
Para o caso aqui o que importa é que de fato a expressão “porquinho de Santo Antônio” é um dito popular italiano. Seu uso pode ter sofrido algumas adaptações, mas, ao final das contas, é num dos sentidos descritos no texto citado que a utilizamos no dia-a-dia. Sua permanência até os dias de hoje na linguagem das famílias em nossas comunidades permite chegarmos a duas interessantes conclusões, segundo acredito. Primeiro, é notória a importância da religião nos costumes e na nossa vida diária; esta expressão atravessou séculos e ainda hoje está aí, viva e sendo usada, mais um reflexo de como a religiosidade foi, e continua sendo elemento fundamental da nossa cultura. Segundo, esta expressão é mais uma amostra de que temos uma cultura Taliana impregnada em nosso cotidiano, algo que nos diferencia e nos aproxima, que nos forma e que deve ser valorizada. Afinal, para encontrarmos nosso lugar ao sol – frase colocada na entrada de Nova Araçá – precisamos saber quem somos!

sexta-feira, 29 de março de 2013

Oração Semana Santa


LA MADONA DOMANDA A GESÙ - Oração passada para mim pela minha nona 
Elsa Maria Bonamigo Bussolotto Franceschetti -  Nova Prata - RS

Ò mio caro figliolo, dove te sarè al Luni Santo?

- Ò mia cara mama, Luni Santo sarò tuto passionato!

Ò mio caro figliolo, dove te sarè al Marti Santo?

- Ò mia cara mama, Marti Santo sarò vestito de bianco!

Ò mio caro figliolo, dove te sarè al Mèrcole Santo?
  
- Ò mia cara mama, Mèrcole Santo sarò ciapato e ligato a la colona!

Ò mio caro figliolo, dove te sarè al Dóbia Santo?

- Ò mia cara mama, Dóbia Santo sarò squartato e venduto par 33 denari falsi!

Ò mio caro figliolo, dove te sarè al Vendre Santo?

- Ò mia cara mama, Vendre Santo sarò tel santo sepolcro!

Ò mio caro figliolo, dove te sarè al Sabo Santo?

- Ò mia cara mama, Sabo Santo sarò tel santo sepolcro!

Ò mio caro figliolo, dove te sarè a la Doménega de Pàscoa?

- Ò mia cara mama,  Doménega de Pàscoa sarò paron e redentor de tutto el mondo!
Tanti grani de sàbia ze a riva del mare, tanti pecati al giorno vui perdonare!

Tradução (feita por mim, ainda parcial)

Oh meu querido filho onde estarás na segunda-feira santa?
- Oh minha querida mãe segunda-feira santa estarei apaixonado!

Oh meu querido filho onde estarás na terça-feira santa?
- Oh minha querida mãe terça-feira santa estarei vestido de branco!

Oh meu querido filho onde estarás na quarta-feira santa?
- Oh minha querida mãe quarta-feira santa serei capturado e amarado a uma coluna!

Oh meu querido filho onde estarás na quinta-feira santa?
- Oh minha querida mãe quinta-feira santa serei massacrado e vendido por 33 denarios falsos!

Oh meu querido filho onde estarás na sexta-feira santa?
- Oh minha querida mãe sexta-feira estarei no santo sepulcro!

Oh meu querido filho onde estarás no sábado santo?
- Oh minha querida mãe sábado santo estarei no santo sepulcro!

Oh meu querido filho onde estarás no domingo de páscoa?
- Oh minha querida mãe no domingo de páscoa serei senhor e redentor de todo o mundo!
Tantos são os grãos de areia na costa do mar, tantos são os pecados ao dia que quero perdoar!



sábado, 9 de março de 2013

Eu acredito no matembre de porco

Escrevo para contar um caso interessante que me aconteceu no carnaval 2013 de Nova Araçá – RS.
Bom, estava eu na segunda de carnaval em minha cidade natal (Nova Araçá/RS) participando de um bloco chamado “Ai se eu te pego”. Meu primeiro ano nesse bloco, no qual, no auge de meus 27 anos, me senti o “Tio da Sukita”, já que os demais integrantes, em sua maioria, eram bem mais novos do que eu. Pareceu-me uma boa oportunidade para observar a maneira como a “galera mais jovem” da minha cidade e região (havia pessoas de municípios próprios também) celebra essa grande manifestação cultural chamada carnaval.
A primeira impressão foi negativa, pois na principal noite de carnaval, ainda na festa de concentração do bloco, ao invés de tocarem as famosas marchinhas carnavalescas, o que se ouvia era música eletrônica. Pensei eu, será que vai tocar pelo menos uma música que relembre a cultura local para salvar a noite? Mas até aquele momento não houve nada.
Assim mesmo, comecei a conversar com outras pessoas que por lá estavam e aconteceu algo muito interessante. Na conversa com um guri e uma guria, bem mais novos, falei de minha opinião contrária a música eletrônica naquele ambiente e momento; estes foram taxativos e me chamaram de velho e de “careta”. Não continuei defendendo minha opinião e no transcorrer da conversa o rapaz convidou a moça para seu churrasco de aniversário que ocorreria no início de março, ela falou:
- Irei somente se houver matambre de porco!
Esta resposta foi de grande alegria para mim, pois, mesmo sem saber, a menina estava mostrando que os costumes e tradições italianas ainda estão presentes na sociedade araçaense. Nada mais tradicional nessas comunidades que o elevado consumo de carne de porco com seus inúmeros subprodutos (salame, socol, queijo de porco,..., etc.).
Além disso, em nossas viagens para outros municípios ouvia a galera em coro cantando:
- Mérica, Mérica, Mérica...
Isso tudo me alegrou. Sei que os costumes estão se perdendo, mas existe muito da cultura taliana impregnada naquela sociedade e acredito ser possível, por meio de nosso esforço, fazê-la viver com muito mais vigor. Eu mesmo, que hoje busco mantê-la viva, quando residia em Nova Araçá, na mesma idade daqueles jovens, não tinha a noção exata do que ela significava. Foi a universidade e o contato com a vida fora da colônia que me despertou para a sua importância.
É por isso que digo: Eu acredito no matambre de porco!
Espero que o esforço de pessoas que se interessam pelo tema - de autoridades locais e da comunidade em geral, apoiados na força dos costumes ainda existentes - consiga manter viva a cultura dei nostri bisnoni, que tanto fizeram e fazem por nossa região e estado. 

domingo, 3 de março de 2013

Para começo de conversa



Olá Pessoal,
Hoje escrevo para falar um pouco sobre um dos objetivos deste blog. Qual seja: manter viva a cultura italiana no Rio Grande do Sul e em outras regiões do país. A ideia é disponibilizar textos, fotos, vídeos, músicas e ou outros tipos de materiais (filmes, livros, etc.) que mostrem a vida na colônia italiana. Para isso conto com ajuda de todos, quem tiver algum material interessante pode me repassar ou postar o link nos comentários. Trabalhando juntos creio que conseguiremos pelo menos ajudar nesta batalha de manter vivo os costumes e a cultura de nossos antepassados. 


Assim, resolvi compartilhar alguns links bem interessantes sobre o tema. O primeiro é da editora EST e disponibiliza um curso de Talian, quem se interessar vale muito a pena.
O segundo é um site sobre imigração italiana. Este tem muita informação, é realmente um achado, espero que todos gostem assim como eu.
O terceiro, é uma radio Taliana que fica 24hrs no ar, é divertida e ao mesmo tempo informativa.

Esses links estão também ao lado nos sites recomendados.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Uma boa luta


Por que nós, descendentes de italianos, devemos nos preocupar com os costumes, os valores e os ensinamentos transmitidos pelos nossos antepassados? A resposta é simples, grande parte do que somos, do que acreditamos, do que sabemos e do que fazemos se deve a essa cultura. Além disso, não se pode negligenciar tudo que foi construído, as cidades criadas e todas as benfeitorias introduzidas, sobretudo, na economia gaúcha e brasileira. Por isso é nosso dever mantê-la viva, principalmente por estarmos em um período chave para sua futura conservação.
Em sua chegada ao RS, os imigrantes encontraram uma terra habitada por um povo que possuía cultura própria e já bastante arraigada – o gaúcho. Embora o apego às tradições e costumes tenha sido uma marca característica dos primeiros colonos italianos, o convívio com o povo local e a adaptação à realidade do novo continente exerceram inegável influência sobre a cultura trazida da Itália. Desse modo, costumes já existentes, como por exemplo, os hábitos de tomar chimarrão e comer churrasco, foram incorporados, principalmente, pelos filhos e netos dos imigrantes. Hoje, esses costumes fazem parte da cultura dos ítalo-gaúchos. Assim, foi natural a mescla entre os povos, devendo isto ser visto de maneira positiva. Entretanto, a cultura dos imigrantes italianos por pertencer a uma minoria (o que se estende, em diferentes graus, aos outros povos) - se não em número, mas, em força política e social - acabou perdendo espaço. Sua língua foi proibida de ser falada, no período da segunda guerra mundial. Em seguida, entre outras importantes transformações sociais, o êxodo rural representou um novo golpe para a sua preservação, pois a expulsão dos descendentes de imigrantes das áreas rurais, mais isoladas e homogêneas em termos de cultura, para as grandes cidades dificultou que a língua e costumes fossem passados a diante.
 Esse processo de desgaste se intensificou, sobretudo, a partir anos 1970 e 1980 com a massificação da televisão e homogeneização cultural advinda do processo de globalização. Diante desse quadro, é imprescindível que nós, descendentes dos imigrantes, lutemos para preservar a nossa cultura. Especialmente em localidades onde ela ainda existe com força, como é caso de algumas regiões ao norte do Rio Grande do Sul, na serra gaúcha e na região da quarta colônia no centro do estado (ou mesmo em outros estados como Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo). Nossa língua - o “Talian” - deve ser ensinada aos mais jovens, às crianças e (por que não?) nas escolas; a culinária, precisa ser aprendida pelas novas gerações. Costumes como o filó - reunião entre vizinhos e/ou parentes para cantar, jogar cartas, comer, beber vinho, conversar sobre a vida, família e trabalho, além de rezar - também poderia ser revivido. Ademais, a valorização do trabalho, da poupança e do consumo frugal marcas dessa cultura e que moldaram nossas cidades devem ser reafirmados, ocupando o papel que lhes cabe como responsáveis, em parte, pelo atual estágio de desenvolvimento de regiões como a serra gaúcha. Por último, mas não menos importante, cabe salientar que a preservação dessa cultura passa também pela manutenção dos valores cristãos que foram a fortaleza dos primeiros italianos que sua terra deixaram “per far L’america”. Assim, é com espírito cheio de fé que devemos lutar para manter viva “La nostra maniera di essere taliani”. 

Vanclei Zanin