quarta-feira, 17 de julho de 2019

O humor colonial na internet

Uns dias atrás estava assistindo um vídeo sobre apelidos de colonos do Badin (O Colono) gostei e resolvi escrever sobre os humoristas que falam sobre a vida na colônia.
   

Sobre o assunto apelidos eu mesmo já escrevi e quem tiver interesse segue o link: http://mattodellsignore.blogspot.com/2014/05/apelidos-aracaenses-eles-dizem-muito.html Quanto aos humoristas, eu prefiro sempre ouvir, ver e ler, em talian. Quando o assunto versa sobre a vida colonial, os costumes, a culinária, os jogos, ou mesmo assuntos como: apelidos, xingamentos e expressões, quando o fizemos em talian me parece que conseguimos expressar mais fielmente o verdadeiro sentido dos termos. Mas temos que admitir o tal do Badin é bom e o trabalho dele importante, pois ajuda a valorizar, através do humor, a memória que temos dos nossos nonos (e antepassados) e só por isso já merece parabéns! Bom mas aproveito para mostrar um pouco de alguns outros humoristas (e vídeos) com humor colonial. Existe um pessoal que fala sobre o humor dos colonos italianos, mais antigo, e que podem não ser tão conhecido. Veja o caso das histórias do Nanetto Pipetta, que conta a epopeia e a vida dos nossos antigos colonos (imigrantes). Neste caso o grupo teatral Miseri Coloni tem a trecho de um episódio sobre o Nanetto no youtube:  
Eu nem sei se esse grupo de teatro continua ativo, mas se estiver, é um desperdício não ser apresentado em toda cidade com colonização italiana do estado e da região sul do país! Temos também o Edgar Maróstica com seus espetáculos faz uma mistura muito boa de humor e valorização cultural (é bom mesmo e de fato tenta ser fiel a la nostra lengoa taliana).

   
No mesmo sentido temos o teatro de Serafina Corrêa - Il rapto del salame! Que também foi feito em Talian! Baita obra!


Mais conhecido e já da velha guarda temos o radicci com suas charges, seu anti-herói, que gosta de vinho, de pescar e vive tendo rusgas com a mulher (por causas de seus vícios) e com o filho, que representa a geração já aculturada. Ele é um clássico e merece ler lido e visto (tem vários vídeos dele no Youtube). Veja ele explicando o Sotacón:
   
Parecido com a proposta do Badin, temos os vídeos “coisas que a serra fala”: 
   
Outra forma de humor muito boa está na letras de músicas, existem várias com humor ácido e cheias de sarcasmo. Para citar um exemplo, vejamos a música I coloni e l’governo (os colonos e o governo – fala de como os políticos só lembram dos colonos no momento da eleição, dopo te impianta tel... começa no 2’15.).
   

Quis aqui apenas mostrar um pouco sobre humor que fala sobre os colonos e seu jeito e que está disponível na internet, mas claro que todos temos lembrança de algum colono engraçado né! Uma amiga uma vez me disse: Os gringos têm leveza no humor e grossura no falar. E isso me faz lembrar de meu bisnono Romulo Fransceschetti que tinha sacadas geniais, sempre rindo e brincado, ele dizia: “se affari va mal il corpo ga mia de patir! E chi muori il mondo lascia, chi resta se a passa! E dezenas de tiradas que quem com ele conviveu se recorda! 

Finalizo, em relação aos vídeos elencados se nota que as propostas mais antigas de humor colonial (anos 1990) foram no talian efetivamente e são menos conhecidas. Já os vídeos mais recentes, em português, focam no relato do modo de vida e jeito de falar dos colonos e atingem um público maior. Quem sabe uma mescla dos dois, com os vídeos de maior alcance sendo um chamariz para la lengoa taliana, para a valorização da cultura e de la nostra maniera de essere não possa ser uma oportunidade que faça reavivar esses mesmos teatros e espetáculos de humor em talian vero

Torço para que no humor esteja mais sopro de esperança para a manutenção e renascimento da nostra coltura taliana!! 

- Cossita non se desmentegheremo mai de la maniera de essere dei nostri pori coloni e la so gente!

domingo, 24 de abril de 2016

A Língua é um dos fundamentos da Cultura

I sataron dela cultura ze la lengoa !!

La lengoa ze il satoron dela cultura, se te tiri via il sataron la casa, la casca, se te tiri via la lengoa, la cultura se finisse.  (A língua é o fundamento/sustentação da cultura, se tiras o fundamento, a casa cai, se tiras a língua, a cultura termina).

Esta é a frase que para mim resume bem o vídeo que segue abaixo, do Professor Darcy Loss Luzzatto. Ele é autor do -  Dissionàrio Talian Portoghese (Veneto Brasilian) - obra essencial para quem quer ajudar a manter a cultura dos imigrantes italianos no Brasil (i taliani).

O vídeo dá uma ideia do quanto o professor sabe a respeito da cultura taliana no Brasil. 

Eu recomendo, vale a pena gastar essa meia hora e ouvir a entrevista para a repórter veneta (ela fala o dialeto Vêneto na entrevista). Assim, além de conhecer um pouco mais sobre a história do Vêneto (e dos vênetos), os nossos colonos daqui podem ter uma ideia se conseguem entender o dialeto dos vênetos que permanece na Itália.

Para finalizar deixo duas frases do professor Darcy que achei muito significativas.
A primeira diz:

- Quel che se scrive rimane quel che se parla se perde!

O que se escreve permanece, o que se fala se perde. Ela nos dá uma ideia do quão importante foi esse trabalho de escrever um dicionário (Talian – Português). Ademais, nos mostra o quanto atrasados estamos se quisermos de fato manter a língua, a cultura e, por consequente, o nosso jeito de ser (la mostra maniera de essere). Primeiro vamos manter a fala, depois temos que lutar para que a crianças aprendam a ler e escrever em talian. É um trabalho árduo, mas que vale a briga!

A segunda frase é a seguinte:

- Noantri semo un spin in te suo cuor!

Nós somos um espinho no coração deles! Frase cheia de sentimentos, não quero interpretar para que as pessoas vejam o vídeo, mas se refere a forma como o Professor Luzzatto fala que italianos enxergam os imigrantes (e seus descendentes daqui). Tem relação com o fato de a grande imigração ter sido resultado das dificuldades da vida na Itália e que era a chance de sobreviver que estava jogo.

Bom, feito isso, quero deixar o meu muito obrigado ao professor Darcy Loss Luzzatto pelo seu trabalho que tanto me ajuda e inspira!



Para finalizar, abaixo coloco um link de um vídeo de outra entrevista, mas de um estudante e autor de livro sobre a língua vêneta na Itália. Ele é um jovem italiano do Vêneto, a conversa mostra que, dada as diferenças, lá a batalha é a mesma: tentar manter viva a língua, os costumes e a cultura!!!
                                                                      



Avanti, mostri che si veneti!!! - Gràssie Darcy, Gràssie per tuo laoro!!!!


Link do Dissionàrio para quem quiser adquirir na Amazon. No google se consegue achar em outros lugares também.





domingo, 26 de julho de 2015

No mínimo a Libertadores

Sabadão a noite, em casa olhando o facebook, vejo uma postagem de não lembro quem,  ao clicar vejo que se trata de um filme sobre il Talian - la nostra lengoa, si, la lengoa dei coloni, come mi. No filme o professor Darcy Loss Luzzatto (este é o cara !!)

Peguei e assisti, são apenas 10 minutos, e valeu cada segundo. O pequeno documentário (ou sei lá quala denominação correta) fala sobre a história do povo veneto. Se há algo de lenda, sobretudo, das origens mais remotas, não sei. O que sei é que deu orgulho!

bem feito, o professor fala um talian que dá gosto de ouvir, me identifiquei e por isso resolvi procurar no youtube e postar aqui!

Super recomendo, e que não pare no vídeo, há diversos livros que falam sobre a história do veneto que ele narra resumidamente. Espero que o video desperte o interesse de "someone like me" sobre a cultura e língua dei taliani.
- Ben,  vedemo cosa vien fora, e par desmentegarse mai, parli talian gente, che questa ze la nostra lengoa !!!

Baita achado para um dia 25 de julho, dia do colono!!!!

Termino dizendo que quem fez esse vídeo merece no mínimo uma Libertadores da América, e vindo de um gremista, vocês entenderam !!!


domingo, 21 de junho de 2015

Bergamota, duvido que vocês sabiam a origem !!!

Bergamote, anca queste ze nostre !

No inverno é tradição aqui no Sul:

- dar uma lagarteada, mateando e comendo bergamota.

Em outras palavras (para não sulistas), pegar um sol, tomar chimarrão e comer mexerica.
Bom, não é difícil compreender que querer aproveitar o sol, dando uma lagarteada, seja algo bastante agradável, sobretudo, no inverno. O chimarrão também é um costume bastante arraigado e no frio é ainda mais saboroso. A bergamota, por sua vez, é uma fruta da época, muito comum e com preço bastante acessível mesmo para quem não possui um pomar.
Assim, entende-se por que é algo bastante comum no Sul, mas o que me deixou curioso é por qual motivo chamamos de bergamota, o que é conhecido como mexerica, na maior parte do Brasil. Foi então que busquei a origem deste nome e o que encontro é:
As palavras bergamota e vergamota têm sua origem na palavra em italiano bergamotta que, por sua vez, tem origem na palavra turca begarmüdi, que significa pera do príncipe”[1].
Diversas fontes confirmam esta afirmação através da descrição da origem etimológica de alguns cítricos:
Falando em Árabe e em cítricas, temos o limão, de limun. Parente dele em idioma de origem e família é a lima, de limâ. O que me lembra a tangerina, que recebeu esse nome do porto de Tânger, cidade do Marrocos perto do Estreito de Gibraltar, que era um local de exportação da fruta para a Europa. Essa mesma fruta é chamada no sul do Brasil de bergamota. Esse nome vem do Turco mustafa egarmudi, “a pera do Príncipe”. Não se sabe que confusão os italianos fizeram entre as frutas, que passaram o nome para bergamotta e assim ficou[2].

O que me faz crer nestes resultados é que a informação se repete em diferentes fontes. Assim, parece que i nostri taliani qua introduziram o uso do termo bergamota, para o que na Itália se conhece por mandarino. A bergamota (bergamotto) é um fruto crítico similar a este (Ver detalhes[3]) e seja por desconhecimento (un sbaglio) ou não por parte dos colonos italianos, o fato é que o uso da palavra bergamota se espalhou no Sul do Brasil para designar o que os portugueses conhecem por mexerica.
Para mim este é mais um fato que mostra o quão pouco, nós colonos descendentes de italianos, sabemos sobre nossa contribuição para a cultura gaúcha. Ora! se até a palavra bergamota, algo tão sulista, tem o nosso dedo, quanto mais outros aspectos de nossa vida não se devem a contribuição destes colonos tão relegados na nossa história.
Como me disse uma vez um colega (Roberto Rocha), os italianos arrumaram o churrasco e estragaram o chimarrão, se referindo, provavelmente, ao desenvolvimento do churrasco com espeto corrido[4] e a utilização de açúcar no mate. O que também ilustra nossa influência nesses produtos tão associados a vida no sul.
Quis escrever sobre isto para reforçar o que faço aqui com frequência, que é ressaltar a importância que nós descendentes de italianos (taliani) tivemos e temos para o que hoje se entende por Rio Grande do Sul. É essencial que saibamos nossas origens, para valorizarmos o que fomos e somos e, assim, não perder a essência que nos faz sermos gaúchos sim, ma anca coloni taliani (ou como dizem gringos)!
Por isso gente, como diz o professor Darcy Loss Luzzatto (grande conhecedor do nosso Talian):

- Parli talian gente che la léngua ze il sataron della cultura!

Cosi portemo avanti la mostra maniera de essere !!!

(Vamos falar nosso dialeto, assim mantemos a cultura e levamos a diante nossa maneira de ser) !!!



[1]http://duvidas.dicio.com.br/bergamota-ou-vergamota/. Busquei em vários outros sites, e parece não haver dúvidas que a origem da palavra no RS e SC vem dos imigrantes italianos que aqui se estabeleceram.  Alternativamente, https://entrelingua.wordpress.com/2009/08/02/e-bergamota-ou-mexerica/.  Acesso 6 dez. 2015.
[2] Disponível em: <http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/bergamota/>. Acesso 6 dez 2015.
[3] Diferenças, história e cultura dos cítricos na Itália: Disponível em: http://inea.it/pianoagrumi/pdf/Quaderno4WebOK.pdf. Acesso em 6 dez 2015.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Baita Filme – L’albero degli zoccoli

Qua si femo poco a meia!!!


O filme L’albero degli zoccoli fala sobre o Norte da Itália no final do século XIX, período da grande imigração italiana, da qual a colonização da nossa Serra Gaúcha e muitos outros lugares no Brasil e no mundo, se fez notar em maior intensidade.
Gostei muito do filme, ele retrata a vida quotidiana de agricultores que não eram donos da terra onde trabalhavam, o resultado de serviço era dividido (acredito que à meia com o patrone (patrão), isto é 50% - 50%). Isso ilustra muito bem o sentimento, descrito em músicas, em expressões e nas histórias passadas de geração em geração pelos nonos e nonas que: nel brasile se laora, ma semo paruni delle nostre terre (No Brasil se trabalha, mas se é dono da própria terra). Sem dúvida, a busca de sua propriedade, de uma vida melhor e de ser seu próprio patrão foi umas das forças propulsoras da imigração da qual somos herdeiros. Esse sentimento de ser o dono do seu próprio pedaço de chão, firma, empresa, bodega, padaria ou qualquer outro negócio é, para mim, um dos fatores que ajudam a explicar o relativo desenvolvimento econômico das regiões de colonização italiana no Brasil. Algo que hoje seria traduzido por empreendedorismo.
Bom, mas o filme mostra muito mais do que a situação de dependência na qual os colonos viviam no Norte da Itália na final dos 1800. O filme retrata o dia-a-dia, as atividades da roça, muitas das quais não se alteraram significativamente ao longo do tempo. Gostei muito da sagra del porco, não pela morte do animal, mas porque mostra a importância desse animal para a alimentação em geral; a forma como isso foi feito no filme é bastante similar ao que vivemos ali nas nossas colônia: Paraí, Araça, Bassan - quem ver o filme vai se identificar, tenho certeza.
- A polenta! Ela aparece todas as noites na mesa desses pori coloni (pobres colonos), e gente, ela é a nossa base alimentar também[1]. Claro que temos diferenças alimentares, mas a base aí está! Nossa origem é essa, e não há como negar.
De fundamental importância para entender a sociedade da qual a imigração resultou é compreender o papel da regiliosidade, da fé  e da família, as quais o filme retratou muito bem. A vida social gira em torno de atividades entre as famílias, seja de trabalho conjunto, seja de eventos como casamentos, festas da paróquia, mas sempre colocando a família em primeiro plano e com a fé católica como unificadora das relações sociais. Observamos a reza diária do terço, a presença de crucifixos, rosários, e das palavras: Gessù Cristo e Madonna (Jesus Cristos e Nossa Senhra) praticamente todo o tempo. A fé está sempre presente em momentos de dificuldades, malatia de una bestia, una desgrassia, quando una famiglia è posta via dea casa, mas também na alegria, em momentos de agradecimento e felicidades. De fato, a reza e a devoção aparecem com destaque a todo momento. Não há dúvida de que o filme deixa explicita a importância da Fé e da Igreja e todo o enredo.
É claro que foi nesse tipo de ambiente que a imigração se desenrolou. Os imigrantes deixaram para trás: famílias, amigos, sua pátria, enfim se aventuravam em busca de uma vida melhor. Mas foi na religião, na fé e na oração que buscaram a força diária necessária para enfrentar as dificuldades deste árduo caminho percorrido.
Esses pontos que levantei me fazem ler e estudar, pelo menos um pouco, sobre a imigração. Me parece que esses foram os pilares que sustentaram a vida de nossos antepassados e forjaram a sociedade em que vivemos hoje. Na medida em que cada um desses pilares vai sendo corroído a sustentação da casa fica comprometida. Nostra maneira de essere (nossa maneira de ser) está cada dia mais em xeque, e se nem ao menos notarmos isso ficará cada vez mais difícil tentar proteger e cultivar a cultura da qual somos parte e devemos grande parte das benesses que hoje possuímos.
Eu acredito que algo possamos contribuir e estou tentando fazer da minha maneira.
- Boa sorte aos amigos que também quiserem travar esse combate!
 Por fim, obrigado Alex por ter me indicado o Filme!!!!

Como não consegui inserir o video, segue o link, nele pode-se ver o filme completo no youtube, e, pode-se ainda colocar legenda em Italiano, Inglês ou Espanhol, uma vez que o filme está em dialeto Bergamasco, parecido com o nosso Talian, mas não igual.






[1] Para quem não é descendente de italianos (ou não conhece) polenta é conhecida como angu em grande parte do Brasil.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Saudades de Casa


Hoje é um daqueles dias em que senti saudades de casa. Não costumo escrever sobre meu estado de espírito no blog, mas hoje mudei de ideia.
Na verdade, me peguei pensando:
- Como seria bom um mate bem amargo com mãe e o pai lá em casa, ouvindo eles falarem sobre as coisas simples do dia-a-dia.
A mãe dizendo o que vai ter pra comer no almoço:
- Ha, hoje temos polenta, radicci e frango em molho com batata.  E na hora do almoçando me diz: ciapa um bicier de vin, che vin va sempre ben com el magnar (pega um copo de vinho, que vinho é sempre bom com a comida!)
Outra coisa simples é ouvir meu pai cantar (seguindo a música na rádio), com a mesma voz ruim que eu herdei, enquanto caminha pela cozinha e eu fico provocando para ver eles discutirem!!!
Uma dessas músicas, que ouvi hoje, e me lembra o vecio Ernesto cantando é essa que segue abaixo!
Chama jantar pra Jesus, ela é linda e tem uma mensagem fantástica.



Bom, pra terminar coloco uma outra música, seguindo o conselho da mãe na hora do almoço, ela chama "O vinho é bom - el vin l’bon " !! Ela é engraçada e cheia de trocadilhos, por isso não traduzi! Mas quem entende sabe que ela fala muito sobre nosso jeito de tocar a vida, isto é, rindo e cantando !!


-OBS: alguém que não entender a música eu posso traduzir, na sequência..


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Colono abroad

A maioria dos meus amigos e familiares sabe que estou nos Estados Unidos fazendo Doutorado Sanduíche na University of Illinois at Urbana-Champaign. Fico aqui por seis meses, isto é, até o começo de fevereiro de 2014.
Estou no início de minha jornada e resolvi escrever um pouco sobre algumas coisas que me chamaram a atenção. Obviamente, há grandes diferenças entre o Brasil e os EUA que todo mundo sabe mesmo sem nunca ter estado por essas bandas. Escrevo sobre alguns pontos daqui que me fizeram lembrar “das colônia”.
Primeiro, a segurança. Sei que falar que aqui é muito mais seguro que no Brasil é chover no molhado, e, sei também que estou em uma cidade pequena no interior dos Estados Unidos. Mas quero comparar com as nossas colônias e não com a periferia de qualquer metrópole brasileira. Pois bem, aqui o sentimento de segurança é real, pode-se andar pela rua tranquilamente, pegar ônibus sem receio. Enfim, o que todos dizem sobre a segurança me parece verdadeiro.
Bom, essa segurança me lembrou de Nova Araçá, lembro que até meus 18 anos, isto é até 2003, minha casa lá, quase nunca era chaveada, eu e meus irmãos não tínhamos cópias das chaves e isso era normal entre a vizinhança.
Aqui as casas são iguais aos filmes, não tem cercas!
Em Nova Araçá também era assim, hoje, porém as coisas mudaram, lá em casa se saímos para ir ao mercado (Jovi ou no Zilli – ambos pertíssimos de casa) comprar qualquer coisa a porta é trancada. Agora quase todas as casas estão cercadas!
Assim, a relativa semelhança entre Urbana (cidade que estou vivendo) e Nova Araçá parece que está ficando cada vez mais distante neste quesito. Em nostra colônia parece que o sentimento de segurança vem gradativamente perdendo força!
Outro ponto que me lembrou de casa foi que aqui a maioria das propagandas na Televisão fala o preço do produto e quase sempre tem algum desconto (save $).
Parece os nossos gringos negociando!
- Nó, nó, nó massa caro che mestier li (não, não, não está muito caro).
Aqui apesar de se ter uma cultura bastante consumista, a ideia dos descontos é muito forte, recordei-me da forma como negociamos por aí, buscando fortemente o desconto, querendo sempre barganhar na negociada.
 Coincidência ou não, assim como o sentimento de segurança, a arte do pechinchar e do consumo consciente vêm perdendo força nas nossas colônias. Não seria isto resultado do enfraquecimento da nostra coltura, dei valori che gavemo imparar co i  nostri noni (da nossa cultura, dos valores que apreendemos com os nossos antepassados)?
Talvez a resposta para, quem sabe, nos tornamos mais parecidos nas boas características com a sociedade norte-americana seja voltarmos a nós mesmos. Relembrar e reforçar nosso jeito de ser e os valores que nos passaram os pori coloni che (pobres colonos que) formaram nossas famílias, cidades e região.
Por fim, outro ponto que queria comentar e que tem a ver com o paragrafo anterior é que sendo meu primeiro contado diretamente com inglês nativo vejo como é bonito falar bem uma língua, quando escuto algum americano falando me esforço o máximo para entender e acho bonito cada palavra, fico feliz quando compreendo totalmente o que está sendo dito. Esse processo me relembra às vezes que ia visitar meu bisnono Rômulo Franceschetti che bello è sentirlo a parlar Talian, ze la stessa roba che sentir qua “a native speaker” (que bonito é ouvir meu nono falando dialeto é a mesma coisa que ouvir um americano falando inglês). Isso não poderia ser de outra forma, pois o Talian é a língua mãe do nono, quem sabe, tentar manter nostra lengua taliana não seja uma forma de recuperar as qualidades que me fizeram associar as nossas colônias com a terra do Tio Sam?

Eu acredito que isso possa ajudar, e tento fazer minha parte!