Qua
si femo poco a meia!!!
O filme L’albero degli zoccoli fala sobre o
Norte da Itália no final do século XIX, período da grande imigração italiana,
da qual a colonização da nossa Serra Gaúcha e muitos outros lugares no Brasil e
no mundo, se fez notar em maior intensidade.
Gostei muito do filme,
ele retrata a vida quotidiana de agricultores que não eram donos da terra onde
trabalhavam, o resultado de serviço era dividido (acredito que à meia com o patrone (patrão), isto é 50% - 50%).
Isso ilustra muito bem o sentimento, descrito em músicas, em expressões e nas
histórias passadas de geração em geração pelos nonos e nonas que: nel brasile se laora, ma semo paruni delle
nostre terre (No Brasil se trabalha, mas se é dono da própria terra). Sem
dúvida, a busca de sua propriedade, de uma vida melhor e de ser seu próprio
patrão foi umas das forças propulsoras da imigração da qual somos herdeiros.
Esse sentimento de ser o dono do seu próprio pedaço de chão, firma, empresa,
bodega, padaria ou qualquer outro negócio é, para mim, um dos fatores que
ajudam a explicar o relativo desenvolvimento econômico das regiões de
colonização italiana no Brasil. Algo que hoje seria traduzido por
empreendedorismo.
Bom, mas o filme mostra
muito mais do que a situação de dependência na qual os colonos viviam no Norte
da Itália na final dos 1800. O filme retrata o dia-a-dia, as atividades da roça,
muitas das quais não se alteraram significativamente ao longo do tempo. Gostei
muito da sagra del porco, não pela morte
do animal, mas porque mostra a importância desse animal para a alimentação em geral;
a forma como isso foi feito no filme é bastante similar ao que vivemos ali nas
nossas colônia: Paraí, Araça, Bassan - quem ver o filme vai se identificar,
tenho certeza.
- A polenta! Ela aparece
todas as noites na mesa desses pori
coloni (pobres colonos), e gente, ela é a nossa base alimentar também[1]. Claro que temos
diferenças alimentares, mas a base aí está! Nossa origem é essa, e não há como negar.
De fundamental
importância para entender a sociedade da qual a imigração resultou é
compreender o papel da regiliosidade, da fé e da família, as quais o filme retratou muito
bem. A vida social gira em torno de atividades entre as famílias, seja de
trabalho conjunto, seja de eventos como casamentos, festas da paróquia, mas
sempre colocando a família em primeiro plano e com a fé católica como
unificadora das relações sociais. Observamos a reza diária do terço, a presença
de crucifixos, rosários, e das palavras: Gessù
Cristo e Madonna (Jesus Cristos e
Nossa Senhra) praticamente todo o tempo. A fé está sempre presente em momentos
de dificuldades, malatia de una bestia,
una desgrassia, quando una famiglia è posta via dea casa, mas também na alegria, em
momentos de agradecimento e felicidades. De fato, a reza e a devoção aparecem
com destaque a todo momento. Não há dúvida de que o filme deixa explicita a
importância da Fé e da Igreja e todo o enredo.
É claro que foi nesse
tipo de ambiente que a imigração se desenrolou. Os imigrantes deixaram para
trás: famílias, amigos, sua pátria, enfim se aventuravam em busca de uma vida
melhor. Mas foi na religião, na fé e na oração que buscaram a força diária
necessária para enfrentar as dificuldades deste árduo caminho percorrido.
Esses pontos que levantei
me fazem ler e estudar, pelo menos um pouco, sobre a imigração. Me parece que
esses foram os pilares que sustentaram a vida de nossos antepassados e forjaram
a sociedade em que vivemos hoje. Na medida em que cada um desses pilares vai
sendo corroído a sustentação da casa fica comprometida. Nostra maneira de essere (nossa maneira de ser) está cada dia mais
em xeque, e se nem ao menos notarmos isso ficará cada vez mais difícil tentar
proteger e cultivar a cultura da qual somos parte e devemos grande parte das
benesses que hoje possuímos.
Eu acredito que algo
possamos contribuir e estou tentando fazer da minha maneira.
- Boa sorte aos amigos
que também quiserem travar esse combate!
Por fim, obrigado Alex por ter me indicado o
Filme!!!!
Como não consegui inserir o video, segue o link, nele pode-se ver o filme completo no youtube, e, pode-se ainda colocar legenda em Italiano, Inglês ou Espanhol, uma vez que o filme está em dialeto Bergamasco, parecido com o nosso Talian, mas não igual.
[1] Para quem não é descendente de
italianos (ou não conhece) polenta é conhecida como angu em grande parte do
Brasil.