sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Baita Filme – L’albero degli zoccoli

Qua si femo poco a meia!!!


O filme L’albero degli zoccoli fala sobre o Norte da Itália no final do século XIX, período da grande imigração italiana, da qual a colonização da nossa Serra Gaúcha e muitos outros lugares no Brasil e no mundo, se fez notar em maior intensidade.
Gostei muito do filme, ele retrata a vida quotidiana de agricultores que não eram donos da terra onde trabalhavam, o resultado de serviço era dividido (acredito que à meia com o patrone (patrão), isto é 50% - 50%). Isso ilustra muito bem o sentimento, descrito em músicas, em expressões e nas histórias passadas de geração em geração pelos nonos e nonas que: nel brasile se laora, ma semo paruni delle nostre terre (No Brasil se trabalha, mas se é dono da própria terra). Sem dúvida, a busca de sua propriedade, de uma vida melhor e de ser seu próprio patrão foi umas das forças propulsoras da imigração da qual somos herdeiros. Esse sentimento de ser o dono do seu próprio pedaço de chão, firma, empresa, bodega, padaria ou qualquer outro negócio é, para mim, um dos fatores que ajudam a explicar o relativo desenvolvimento econômico das regiões de colonização italiana no Brasil. Algo que hoje seria traduzido por empreendedorismo.
Bom, mas o filme mostra muito mais do que a situação de dependência na qual os colonos viviam no Norte da Itália na final dos 1800. O filme retrata o dia-a-dia, as atividades da roça, muitas das quais não se alteraram significativamente ao longo do tempo. Gostei muito da sagra del porco, não pela morte do animal, mas porque mostra a importância desse animal para a alimentação em geral; a forma como isso foi feito no filme é bastante similar ao que vivemos ali nas nossas colônia: Paraí, Araça, Bassan - quem ver o filme vai se identificar, tenho certeza.
- A polenta! Ela aparece todas as noites na mesa desses pori coloni (pobres colonos), e gente, ela é a nossa base alimentar também[1]. Claro que temos diferenças alimentares, mas a base aí está! Nossa origem é essa, e não há como negar.
De fundamental importância para entender a sociedade da qual a imigração resultou é compreender o papel da regiliosidade, da fé  e da família, as quais o filme retratou muito bem. A vida social gira em torno de atividades entre as famílias, seja de trabalho conjunto, seja de eventos como casamentos, festas da paróquia, mas sempre colocando a família em primeiro plano e com a fé católica como unificadora das relações sociais. Observamos a reza diária do terço, a presença de crucifixos, rosários, e das palavras: Gessù Cristo e Madonna (Jesus Cristos e Nossa Senhra) praticamente todo o tempo. A fé está sempre presente em momentos de dificuldades, malatia de una bestia, una desgrassia, quando una famiglia è posta via dea casa, mas também na alegria, em momentos de agradecimento e felicidades. De fato, a reza e a devoção aparecem com destaque a todo momento. Não há dúvida de que o filme deixa explicita a importância da Fé e da Igreja e todo o enredo.
É claro que foi nesse tipo de ambiente que a imigração se desenrolou. Os imigrantes deixaram para trás: famílias, amigos, sua pátria, enfim se aventuravam em busca de uma vida melhor. Mas foi na religião, na fé e na oração que buscaram a força diária necessária para enfrentar as dificuldades deste árduo caminho percorrido.
Esses pontos que levantei me fazem ler e estudar, pelo menos um pouco, sobre a imigração. Me parece que esses foram os pilares que sustentaram a vida de nossos antepassados e forjaram a sociedade em que vivemos hoje. Na medida em que cada um desses pilares vai sendo corroído a sustentação da casa fica comprometida. Nostra maneira de essere (nossa maneira de ser) está cada dia mais em xeque, e se nem ao menos notarmos isso ficará cada vez mais difícil tentar proteger e cultivar a cultura da qual somos parte e devemos grande parte das benesses que hoje possuímos.
Eu acredito que algo possamos contribuir e estou tentando fazer da minha maneira.
- Boa sorte aos amigos que também quiserem travar esse combate!
 Por fim, obrigado Alex por ter me indicado o Filme!!!!

Como não consegui inserir o video, segue o link, nele pode-se ver o filme completo no youtube, e, pode-se ainda colocar legenda em Italiano, Inglês ou Espanhol, uma vez que o filme está em dialeto Bergamasco, parecido com o nosso Talian, mas não igual.






[1] Para quem não é descendente de italianos (ou não conhece) polenta é conhecida como angu em grande parte do Brasil.