segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Colono abroad

A maioria dos meus amigos e familiares sabe que estou nos Estados Unidos fazendo Doutorado Sanduíche na University of Illinois at Urbana-Champaign. Fico aqui por seis meses, isto é, até o começo de fevereiro de 2014.
Estou no início de minha jornada e resolvi escrever um pouco sobre algumas coisas que me chamaram a atenção. Obviamente, há grandes diferenças entre o Brasil e os EUA que todo mundo sabe mesmo sem nunca ter estado por essas bandas. Escrevo sobre alguns pontos daqui que me fizeram lembrar “das colônia”.
Primeiro, a segurança. Sei que falar que aqui é muito mais seguro que no Brasil é chover no molhado, e, sei também que estou em uma cidade pequena no interior dos Estados Unidos. Mas quero comparar com as nossas colônias e não com a periferia de qualquer metrópole brasileira. Pois bem, aqui o sentimento de segurança é real, pode-se andar pela rua tranquilamente, pegar ônibus sem receio. Enfim, o que todos dizem sobre a segurança me parece verdadeiro.
Bom, essa segurança me lembrou de Nova Araçá, lembro que até meus 18 anos, isto é até 2003, minha casa lá, quase nunca era chaveada, eu e meus irmãos não tínhamos cópias das chaves e isso era normal entre a vizinhança.
Aqui as casas são iguais aos filmes, não tem cercas!
Em Nova Araçá também era assim, hoje, porém as coisas mudaram, lá em casa se saímos para ir ao mercado (Jovi ou no Zilli – ambos pertíssimos de casa) comprar qualquer coisa a porta é trancada. Agora quase todas as casas estão cercadas!
Assim, a relativa semelhança entre Urbana (cidade que estou vivendo) e Nova Araçá parece que está ficando cada vez mais distante neste quesito. Em nostra colônia parece que o sentimento de segurança vem gradativamente perdendo força!
Outro ponto que me lembrou de casa foi que aqui a maioria das propagandas na Televisão fala o preço do produto e quase sempre tem algum desconto (save $).
Parece os nossos gringos negociando!
- Nó, nó, nó massa caro che mestier li (não, não, não está muito caro).
Aqui apesar de se ter uma cultura bastante consumista, a ideia dos descontos é muito forte, recordei-me da forma como negociamos por aí, buscando fortemente o desconto, querendo sempre barganhar na negociada.
 Coincidência ou não, assim como o sentimento de segurança, a arte do pechinchar e do consumo consciente vêm perdendo força nas nossas colônias. Não seria isto resultado do enfraquecimento da nostra coltura, dei valori che gavemo imparar co i  nostri noni (da nossa cultura, dos valores que apreendemos com os nossos antepassados)?
Talvez a resposta para, quem sabe, nos tornamos mais parecidos nas boas características com a sociedade norte-americana seja voltarmos a nós mesmos. Relembrar e reforçar nosso jeito de ser e os valores que nos passaram os pori coloni che (pobres colonos que) formaram nossas famílias, cidades e região.
Por fim, outro ponto que queria comentar e que tem a ver com o paragrafo anterior é que sendo meu primeiro contado diretamente com inglês nativo vejo como é bonito falar bem uma língua, quando escuto algum americano falando me esforço o máximo para entender e acho bonito cada palavra, fico feliz quando compreendo totalmente o que está sendo dito. Esse processo me relembra às vezes que ia visitar meu bisnono Rômulo Franceschetti che bello è sentirlo a parlar Talian, ze la stessa roba che sentir qua “a native speaker” (que bonito é ouvir meu nono falando dialeto é a mesma coisa que ouvir um americano falando inglês). Isso não poderia ser de outra forma, pois o Talian é a língua mãe do nono, quem sabe, tentar manter nostra lengua taliana não seja uma forma de recuperar as qualidades que me fizeram associar as nossas colônias com a terra do Tio Sam?

Eu acredito que isso possa ajudar, e tento fazer minha parte!

domingo, 10 de agosto de 2014

Porque eu gosto de Cotipo?


Hoje vi um post no facebook sobre uma festa que aconteceu Cotiporã. Então, senti uma sensação boa só de pensar nessa cidadezinha. Depois disso, me peguei pensando:
Porque gosto de Cotipo (diminutivo carinhoso)?
Não conheço quase ninguém lá. Aliás, apenas um amigo, de quem nunca mais tive notícia desde a época que estudava em Santa Maria (há uns 10 anos). Conheço algumas pessoas de são naturais de lá, na verdade só a família do Cassiano Celant - pessoas que eu gosto muito - mas somente isso, não deveria trazer tamanha empatia por aquela cidadela.
Bom, mas a partir deste momento começou a brotar em minha mente motivos pelos quais esse sentimento surgiu, os quais descrevo a seguir:

- Lá, eles têm uma festa chamada Festa in Vêneto! Bingo, está aí um baita motivo. Não conseguiria achar um melhor nome pra um festejo que relembre nossas origens, nostri antenati, que este, Festa in Vêneto. Ora, o Vêneto grande provedor de taliani para o nosso Brasil e nossa região Sul merece esta homenagem! E na minha despretensiosa opinião foi de uma grande felicidade a escolha deste nome, e não foram cidades maiores, mais habituadas com turismo, como: Bento Gonçalves, Caxias do Sul, ou Garibaldi que o escolheram, mas sim, Cotiporã. Parabéns !!!!

Continuando, lembrei também que lá existe uma marca de vinho chamado: Dei Coloni!

- Nantra ben fata!  Tuzi che bel nome par un vin, nó!?

Sempre que vou para Nova Araçá, no inverno principalmente, tomo um vinho com i veci la casa mia. Em alguns anos o pai mesmo o faz. Outras vezes, é um vinho de colônia de algum amigo que vendeu pra ele. Mas, se o vinho é de colônia, então é um vinho dos colonos, bingo: Vin Dei Coloni, nome do vinho de Cotiporã, assim quando escuto (ou leio) esse nome me lembro de casa, das pessoas que gosto e de momentos felizes.
- Nantra pinhona como diria meu amigo Ronaldo Silvestri. Os caras de Cotiporã acertaram de novo.

Então entendi, são essas coisas que me fazem gostar dessa cidade, local que conheço apenas de passagem. O que sinto é uma forte admiração, pois a comunidade de Cotiporã mostra uma autoconsciência de sua história e de sua gente que é ímpar. E demonstram nesses exemplos de nomes de suas festas e produtos o orgulho (onore) que sentem em serem Colonos!

- Admirável!!

Essa capacidade de conservar, pelo menos em alguma medida, a nossa maneira de ser (la nostra meniera 
de essere), herdada dos nossos nonos (dei nostri noni), deveria dar inveja em várias outras cidades da nossa Serra Gaúcha e mesmo do Brasil.


- Auguri Cotipo!!!