No último feriado da páscoa estive em Nova Araçá. Visitar a
família, os amigos, os parentes, onde se pode conversar (ciacolar) a vontade sobre tudo; isto é ótimo, me renova e dá força
para continuar. De fato, é sempre muito bom rever os meus, e este, acredito, é
um sentimento de todos que amam seu lugar e sua gente de origem.
Porém, nem só de alegria vivem essas visitas, também “me stufa de esser casa a magnar e bever
tanto”. Mas isso faz parte né!? E, em geral, sempre que volto para minha
rotina reflito sobre a vida na colônia e dá vontade de escrever no blog. Assim
foi dessa última vez, então resolvi escrever. O assunto:
- Os apelidos!
Essa forma de tratamento, às vezes carinhosa, às vezes
engraçada, às vezes não muito bem aceita por aqueles a quem a alcunha é imposta
diz muito sobre as pessoas e a comunidade em questão. No nosso caso, é
inequívoco que muitos apelidos estão ligados à cultura italiana (La nostra cultura Taliana, o anche la nostra
maniera de essere) e dizem muito sobre a forma particular como “tocamos a
vida”. Há apelidos antigos, desde o tempo dos primeiros imigrantes e que
sobrevivem ao tempo. Mesmo alguns sobrenomes podem ter surgidos de apelidos
antiquíssimos. Foco-me aqui nos mais comuns, que conheço desde meus tempos de
guri ali “no Araçá”.
Bom, então vamos começar com os tradicionais:
Temos, por exemplo, o Bepi Rizzotto (se lê Bépi) que dirige
caminhão. Ninguém o chama de José, mas de Bepi. O pai do meu amigo Rudimar
Bertoldo, ninguém o conhece por Antônio, mas por Toni (se lê Tóni) Bertoldo.
Outro caso desses apelidos tradicionais é o pai do Camilo
Comunello, ele é conhecido por Gigio Comunello (se lê dgidgio) e não Luiz. Há, em
Nova Araçá, diversos outros Gigios (Zamarchi, Casagrande, etc). Outra forma de
chamar Luiz é por Luigi, veja-se o caso do Luigi Scapini.
Tem ainda o Giba Scapini, filho do Luigi, que também traz a
carga cultural Taliana da família em seu
apelido, se lê “Dgiba”, forma padrão do som da letra g em italiano (e no nostro Talian).
Há apelidos que refletem características físicas:
Como por exemplo, o pai do meu amigo Ricardo Baccarin, o
falecido Risso, cujo apelido, muito provavelmente, se deva aos seus cabelos
encaracolados, atributo que deixou por herança a seus descendentes, Ricardo e
Daniel. Digo isso, pois, Risso em talian
significa: crespo.
Ainda em relação aos atributos físicos, usa-se comumente Pici
(que vem de picinin ou picenin, que significa pequeno) tanto para pessoas muito
pequenas como para pessoas altas. Vide: Pici Franciosi e Pici Gregianin, dois
amigos cujos os apelidos, provavelmente, se devem ao fato de o primeiro ser de
estatura baixa e o segundo de estatura alta.
Outra forma de se apelidar as pessoas e que traz nossa veia Taliana
é a forma em que abreviamos e pronunciamos os nomes próprios (nos moldes de
Giba) temos:
O Cindo (que se lè Tchindo) ou Alcindo Mezzomo, pai do meu
amigo Elvis. O Cichi (Tchiqui) primo do Cindo. Gioanin ou mesmo Jon são formas
de se chamar João, veja o caso do João Sangalli e do João Gregianin (se lê
Joanin e Jon, respectivamente).
O caso do “Pipa” é diferente. Seu apelido decorre do fato de
ser um fumante habitual (pipa = cachimbo e pipeta = fumante, fumador de
cachimbo). Este caso é curioso, pois o falecido vecio pipeta passou hereditariamente o apelido para seu filho, o
Rubens Turmina - chamado Pipa ou pipeta - que, pelo que me consta nunca fumou.
Assim, tem-se um apelido decorrente de um hábito que se passa para uma pessoa
que não possui esse hábito!
Enfim, são apenas alguns exemplos
e muitos outros poderiam ser elencados. Eu fiz menção destes apenas para
ressaltar a influência e a herança cultural, ainda fortemente presente em nosso
dia-a-dia, dos nossos antepassados – i
nostri veci taliani – que fundaram nossas cidades e região. Por fim,
ressalto que fiz referência a nomes e apelidos de pessoas muito queridas por
todos nós e que já faleceram, meu objetivo com isso foi reforçar o legado cultural
que nos cerca e relembrar a todos que uma ótima maneira de se homenagear nossos
entes queridos é cultivando e preservando a nossa maneira de ser – maneira de essere taliani – que eles nos deixaram como NOSSA MAIOR HERANÇA!
Peço a todos que gostarem e/ou que souberem algum apelido de
origem italiana em suas respectivas cidades que escrevam aqui. Essa é apenas uma
singela forma buscarmos manter viva nossa cultura, compreendendo quem somos e
rendendo homenagens àqueles que tanto trabalharam para nos propiciar uma vida
melhor: os Nossos Antepassados!