quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Saudades de Casa


Hoje é um daqueles dias em que senti saudades de casa. Não costumo escrever sobre meu estado de espírito no blog, mas hoje mudei de ideia.
Na verdade, me peguei pensando:
- Como seria bom um mate bem amargo com mãe e o pai lá em casa, ouvindo eles falarem sobre as coisas simples do dia-a-dia.
A mãe dizendo o que vai ter pra comer no almoço:
- Ha, hoje temos polenta, radicci e frango em molho com batata.  E na hora do almoçando me diz: ciapa um bicier de vin, che vin va sempre ben com el magnar (pega um copo de vinho, que vinho é sempre bom com a comida!)
Outra coisa simples é ouvir meu pai cantar (seguindo a música na rádio), com a mesma voz ruim que eu herdei, enquanto caminha pela cozinha e eu fico provocando para ver eles discutirem!!!
Uma dessas músicas, que ouvi hoje, e me lembra o vecio Ernesto cantando é essa que segue abaixo!
Chama jantar pra Jesus, ela é linda e tem uma mensagem fantástica.



Bom, pra terminar coloco uma outra música, seguindo o conselho da mãe na hora do almoço, ela chama "O vinho é bom - el vin l’bon " !! Ela é engraçada e cheia de trocadilhos, por isso não traduzi! Mas quem entende sabe que ela fala muito sobre nosso jeito de tocar a vida, isto é, rindo e cantando !!


-OBS: alguém que não entender a música eu posso traduzir, na sequência..


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Colono abroad

A maioria dos meus amigos e familiares sabe que estou nos Estados Unidos fazendo Doutorado Sanduíche na University of Illinois at Urbana-Champaign. Fico aqui por seis meses, isto é, até o começo de fevereiro de 2014.
Estou no início de minha jornada e resolvi escrever um pouco sobre algumas coisas que me chamaram a atenção. Obviamente, há grandes diferenças entre o Brasil e os EUA que todo mundo sabe mesmo sem nunca ter estado por essas bandas. Escrevo sobre alguns pontos daqui que me fizeram lembrar “das colônia”.
Primeiro, a segurança. Sei que falar que aqui é muito mais seguro que no Brasil é chover no molhado, e, sei também que estou em uma cidade pequena no interior dos Estados Unidos. Mas quero comparar com as nossas colônias e não com a periferia de qualquer metrópole brasileira. Pois bem, aqui o sentimento de segurança é real, pode-se andar pela rua tranquilamente, pegar ônibus sem receio. Enfim, o que todos dizem sobre a segurança me parece verdadeiro.
Bom, essa segurança me lembrou de Nova Araçá, lembro que até meus 18 anos, isto é até 2003, minha casa lá, quase nunca era chaveada, eu e meus irmãos não tínhamos cópias das chaves e isso era normal entre a vizinhança.
Aqui as casas são iguais aos filmes, não tem cercas!
Em Nova Araçá também era assim, hoje, porém as coisas mudaram, lá em casa se saímos para ir ao mercado (Jovi ou no Zilli – ambos pertíssimos de casa) comprar qualquer coisa a porta é trancada. Agora quase todas as casas estão cercadas!
Assim, a relativa semelhança entre Urbana (cidade que estou vivendo) e Nova Araçá parece que está ficando cada vez mais distante neste quesito. Em nostra colônia parece que o sentimento de segurança vem gradativamente perdendo força!
Outro ponto que me lembrou de casa foi que aqui a maioria das propagandas na Televisão fala o preço do produto e quase sempre tem algum desconto (save $).
Parece os nossos gringos negociando!
- Nó, nó, nó massa caro che mestier li (não, não, não está muito caro).
Aqui apesar de se ter uma cultura bastante consumista, a ideia dos descontos é muito forte, recordei-me da forma como negociamos por aí, buscando fortemente o desconto, querendo sempre barganhar na negociada.
 Coincidência ou não, assim como o sentimento de segurança, a arte do pechinchar e do consumo consciente vêm perdendo força nas nossas colônias. Não seria isto resultado do enfraquecimento da nostra coltura, dei valori che gavemo imparar co i  nostri noni (da nossa cultura, dos valores que apreendemos com os nossos antepassados)?
Talvez a resposta para, quem sabe, nos tornamos mais parecidos nas boas características com a sociedade norte-americana seja voltarmos a nós mesmos. Relembrar e reforçar nosso jeito de ser e os valores que nos passaram os pori coloni che (pobres colonos que) formaram nossas famílias, cidades e região.
Por fim, outro ponto que queria comentar e que tem a ver com o paragrafo anterior é que sendo meu primeiro contado diretamente com inglês nativo vejo como é bonito falar bem uma língua, quando escuto algum americano falando me esforço o máximo para entender e acho bonito cada palavra, fico feliz quando compreendo totalmente o que está sendo dito. Esse processo me relembra às vezes que ia visitar meu bisnono Rômulo Franceschetti che bello è sentirlo a parlar Talian, ze la stessa roba che sentir qua “a native speaker” (que bonito é ouvir meu nono falando dialeto é a mesma coisa que ouvir um americano falando inglês). Isso não poderia ser de outra forma, pois o Talian é a língua mãe do nono, quem sabe, tentar manter nostra lengua taliana não seja uma forma de recuperar as qualidades que me fizeram associar as nossas colônias com a terra do Tio Sam?

Eu acredito que isso possa ajudar, e tento fazer minha parte!

domingo, 10 de agosto de 2014

Porque eu gosto de Cotipo?


Hoje vi um post no facebook sobre uma festa que aconteceu Cotiporã. Então, senti uma sensação boa só de pensar nessa cidadezinha. Depois disso, me peguei pensando:
Porque gosto de Cotipo (diminutivo carinhoso)?
Não conheço quase ninguém lá. Aliás, apenas um amigo, de quem nunca mais tive notícia desde a época que estudava em Santa Maria (há uns 10 anos). Conheço algumas pessoas de são naturais de lá, na verdade só a família do Cassiano Celant - pessoas que eu gosto muito - mas somente isso, não deveria trazer tamanha empatia por aquela cidadela.
Bom, mas a partir deste momento começou a brotar em minha mente motivos pelos quais esse sentimento surgiu, os quais descrevo a seguir:

- Lá, eles têm uma festa chamada Festa in Vêneto! Bingo, está aí um baita motivo. Não conseguiria achar um melhor nome pra um festejo que relembre nossas origens, nostri antenati, que este, Festa in Vêneto. Ora, o Vêneto grande provedor de taliani para o nosso Brasil e nossa região Sul merece esta homenagem! E na minha despretensiosa opinião foi de uma grande felicidade a escolha deste nome, e não foram cidades maiores, mais habituadas com turismo, como: Bento Gonçalves, Caxias do Sul, ou Garibaldi que o escolheram, mas sim, Cotiporã. Parabéns !!!!

Continuando, lembrei também que lá existe uma marca de vinho chamado: Dei Coloni!

- Nantra ben fata!  Tuzi che bel nome par un vin, nó!?

Sempre que vou para Nova Araçá, no inverno principalmente, tomo um vinho com i veci la casa mia. Em alguns anos o pai mesmo o faz. Outras vezes, é um vinho de colônia de algum amigo que vendeu pra ele. Mas, se o vinho é de colônia, então é um vinho dos colonos, bingo: Vin Dei Coloni, nome do vinho de Cotiporã, assim quando escuto (ou leio) esse nome me lembro de casa, das pessoas que gosto e de momentos felizes.
- Nantra pinhona como diria meu amigo Ronaldo Silvestri. Os caras de Cotiporã acertaram de novo.

Então entendi, são essas coisas que me fazem gostar dessa cidade, local que conheço apenas de passagem. O que sinto é uma forte admiração, pois a comunidade de Cotiporã mostra uma autoconsciência de sua história e de sua gente que é ímpar. E demonstram nesses exemplos de nomes de suas festas e produtos o orgulho (onore) que sentem em serem Colonos!

- Admirável!!

Essa capacidade de conservar, pelo menos em alguma medida, a nossa maneira de ser (la nostra meniera 
de essere), herdada dos nossos nonos (dei nostri noni), deveria dar inveja em várias outras cidades da nossa Serra Gaúcha e mesmo do Brasil.


- Auguri Cotipo!!!

domingo, 4 de maio de 2014

Apelidos Araçaenses: Eles dizem muito sobre nós!

No último feriado da páscoa estive em Nova Araçá. Visitar a família, os amigos, os parentes, onde se pode conversar (ciacolar) a vontade sobre tudo; isto é ótimo, me renova e dá força para continuar. De fato, é sempre muito bom rever os meus, e este, acredito, é um sentimento de todos que amam seu lugar e sua gente de origem.
Porém, nem só de alegria vivem essas visitas, também “me stufa de esser casa a magnar e bever tanto”. Mas isso faz parte né!? E, em geral, sempre que volto para minha rotina reflito sobre a vida na colônia e dá vontade de escrever no blog. Assim foi dessa última vez, então resolvi escrever. O assunto:
- Os apelidos!
Essa forma de tratamento, às vezes carinhosa, às vezes engraçada, às vezes não muito bem aceita por aqueles a quem a alcunha é imposta diz muito sobre as pessoas e a comunidade em questão. No nosso caso, é inequívoco que muitos apelidos estão ligados à cultura italiana (La nostra cultura Taliana, o anche la nostra maniera de essere) e dizem muito sobre a forma particular como “tocamos a vida”. Há apelidos antigos, desde o tempo dos primeiros imigrantes e que sobrevivem ao tempo. Mesmo alguns sobrenomes podem ter surgidos de apelidos antiquíssimos. Foco-me aqui nos mais comuns, que conheço desde meus tempos de guri ali “no Araçá”.
Bom, então vamos começar com os tradicionais:
Temos, por exemplo, o Bepi Rizzotto (se lê Bépi) que dirige caminhão. Ninguém o chama de José, mas de Bepi. O pai do meu amigo Rudimar Bertoldo, ninguém o conhece por Antônio, mas por Toni (se lê Tóni) Bertoldo.
Outro caso desses apelidos tradicionais é o pai do Camilo Comunello, ele é conhecido por Gigio Comunello (se lê dgidgio) e não Luiz. Há, em Nova Araçá, diversos outros Gigios (Zamarchi, Casagrande, etc). Outra forma de chamar Luiz é por Luigi, veja-se o caso do Luigi Scapini.
Tem ainda o Giba Scapini, filho do Luigi, que também traz a carga cultural Taliana da família em seu apelido, se lê “Dgiba”, forma padrão do som da letra g em italiano (e no nostro Talian).
Há apelidos que refletem características físicas:
Como por exemplo, o pai do meu amigo Ricardo Baccarin, o falecido Risso, cujo apelido, muito provavelmente, se deva aos seus cabelos encaracolados, atributo que deixou por herança a seus descendentes, Ricardo e Daniel. Digo isso, pois, Risso em talian significa: crespo.
Ainda em relação aos atributos físicos, usa-se comumente Pici (que vem de picinin ou picenin, que significa pequeno) tanto para pessoas muito pequenas como para pessoas altas. Vide: Pici Franciosi e Pici Gregianin, dois amigos cujos os apelidos, provavelmente, se devem ao fato de o primeiro ser de estatura baixa e o segundo de estatura alta.
Outra forma de se apelidar as pessoas e que traz nossa veia Taliana é a forma em que abreviamos e pronunciamos os nomes próprios (nos moldes de Giba) temos:
O Cindo (que se lè Tchindo) ou Alcindo Mezzomo, pai do meu amigo Elvis. O Cichi (Tchiqui) primo do Cindo. Gioanin ou mesmo Jon são formas de se chamar João, veja o caso do João Sangalli e do João Gregianin (se lê Joanin e Jon, respectivamente).
O caso do “Pipa” é diferente. Seu apelido decorre do fato de ser um fumante habitual (pipa = cachimbo e pipeta = fumante, fumador de cachimbo). Este caso é curioso, pois o falecido vecio pipeta passou hereditariamente o apelido para seu filho, o Rubens Turmina - chamado Pipa ou pipeta - que, pelo que me consta nunca fumou. Assim, tem-se um apelido decorrente de um hábito que se passa para uma pessoa que não possui esse hábito!
Enfim, são apenas alguns exemplos e muitos outros poderiam ser elencados. Eu fiz menção destes apenas para ressaltar a influência e a herança cultural, ainda fortemente presente em nosso dia-a-dia, dos nossos antepassados – i nostri veci taliani – que fundaram nossas cidades e região. Por fim, ressalto que fiz referência a nomes e apelidos de pessoas muito queridas por todos nós e que já faleceram, meu objetivo com isso foi reforçar o legado cultural que nos cerca e relembrar a todos que uma ótima maneira de se homenagear nossos entes queridos é cultivando e preservando a nossa maneira de ser – maneira de essere taliani – que eles nos deixaram como NOSSA MAIOR HERANÇA!

Peço a todos que gostarem e/ou que souberem algum apelido de origem italiana em suas respectivas cidades que escrevam aqui. Essa é apenas uma singela forma buscarmos manter viva nossa cultura, compreendendo quem somos e rendendo homenagens àqueles que tanto trabalharam para nos propiciar uma vida melhor: os Nossos Antepassados!

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Ricordarse dei Nostri Bisnoni



Hoje resolvi escrever no blog, algo que há bastante tempo não fazia, pra matar um pouco a saudade de casa. Assim, disponibilizo uma música que escuto pra me lembrar de casa, da família, dos amigos, do nosso jeito de falar e viver. Pretendo disponibilizar vários vídeos do youtube com músicas em Talian apresentando a tradução em português para que mesmo quem não conheça o Talian consiga entender. 

Para começar, segue o vídeo da belíssima música taliana: Bisogna ricordarsi dei nostri bisnoni do cantor Valmor Marasca. Abaixo a letra e a tradução que encontrei na internet[1]



É uma letra muito bonita, cheia de significado e que conta muito da história vivida pelos nossos nonos que batalharam muito para que hoje tenhamos essa vida mais confortável. O recado é simples, temos que recordar e valorizar esses abnegados que com esforço, suor e muita força de vontade construíram uma nova vida nesse que hoje é o nosso país!


Original em dialeto veneto
Tradução



Faze più de cento ani,
che i Taliani qua i zé rivai;
Zé rivati de bastimento,
i gà sofresto pezo che animai;
I gà trovato puro mato,
sensa querte i dormiva in tera;
I gà lutà tanto tanto,
quasi come esser ne la guera.

Bisogna recordarse de i nostri bisnoni
che gràssie a lori ancó noi semo qua!


De manara i taieva le piante,
per piantare formento e milio;
Quelo zera per el suo sustento,
pena rivati qua nte sto paise;
I gà piantà tanti vignai,
i gà impienesto le bote de vin;
L'era i Taliani che ghe fea veder,
la so forsa a tuto l' Brasil.

Bisogna recordarse de i nostri bisnoni
che gràssie a lori ancó noi semo qua! 


La domenica i ndeva a mesa,
fioi e fiole e i sui genitori;
I gaveva tanta fede a Dio,
che zé pupà anca de tuti noi;
Se tuta la gente del mondo,
fose stata come i nostri bisnoni,
desso el mondo el saria ben nantro,
sensa guera e meno povertà!

Bisogna recordarse de i nostri bisnoni
che gràssie a lori ancó noi semo qua! 


Quando l' era giorni de festa,
se reuniva diverse fameie;
I canteva, i giugheva a le boce,
giugar carte i pasea note intiere;
Ben contenti i giugheva a la mora,
e i beveva anca tanto vin;
Quando che ghe bateva la fame,
i magnea polenta e scodeghin.

Bisogna recordarse de i nostri bisnoni
che gràssie a lori ancó noi semo qua! 


Vardé adesso, me cari frateli,
che cità e che bele colonie;
Tante strade e che grande industrie,
che i ga fato per noi ver più sorte;
Noi qua adesso gavemo de tuto,
ascolté cosa che mi ve digo:
Recordeve de i nostri Taliani,
che adesso i è là n tel paradizo!

Bisogna recordarse de i nostri bisnoni
che gràssie a lori poi noi semo qua! 

Fazem mais de cem anos,
que os Italianos aqui chegaram;
Chegaram de navio,
sofreram pior (mais) do que animais;
Encontraram puro mato,
sem cobertores dormiam em terra;
Lutaram tanto tanto,
quase como ser na guerra.

É preciso lembrar-se dos nossos bisavôs
pois graças a eles hoje nos estamos aqui!


De machado cortavam as plantas,
para plantar trigo e milho;
Aquele era para seu sustento,
apenas chegados aqui neste país;
Plantaram muitos vinhedos,
encheram os tonéis de vinho;
Eram os Italianos que faziam ver,
sua força a todo o Brasil.

É preciso lembrar-se dos nossos bisavôs
pois graças a eles hoje nos estamos aqui!

No domingo iam à missa,
filhos e filhas e seus pais;
Tinham tanta fé em Deus
que é pai também de todos nós;
Se todas as pessoas do mundo,
tivessem sido como os nossos bisavôs,
agora o mundo seria bem outro,
sem guerra e menos pobreza!

É preciso lembrar-se dos nossos bisavôs
pois graças a eles hoje nos estamos aqui!

Quando eram os dias de festa,
reuniam-se diversas famílias;
Cantavam, jogavam boliche,
jogando baralho passavam noites inteiras;
Ben contentos jogavam a "morra",
e bebiam também muito vinho;
Quando batia a fome,
comiam polenta e salpicão.

É preciso lembrar-se dos nossos bisavôs
pois graças a eles hoje nos estamos aqui!

Olhem agora, meus queridos irmãos,
que cidades e que belas colônias;
Tantas estradas e que grandes industrias,
que fizeram para nos termos mais sorte;
Nos agora temos de tudo,
escutem o que vou dizer a vocês:
Lembrem-se dos nossos Italianos,
que agora estão lá no Paraíso!

É preciso lembrar-se dos nossos bisavôs
pois graças a eles hoje nos estamos aqui!


[1] http://italiasempre.com/verpor/ricordare2.php. Fiz algumas pequenas adaptações na tradução e na escrita.